Assédio e Tendências, leia sobre os destaques de Cacá Rabello no ABP Festival

Com o tema Viva a Talentologia, aconteceu no dia 22 de outubro o Festival da ABP 2018. O Festival premiou trabalhos e profissionais do mercado publicitário nacional e promoveu um dia inteiro de trocas e debates.

Dentre todos os assuntos, dois painéis me despertaram maior interesse: a apresentação da pesquisa do Grupo de Planejamento sobre o assédio (moral e sexual) nas agências e o painel sobre Megatrends (tendências para os próximos anos), apresentado por Peter Kronstrom, Head do Copenhagen Institute for Futures Studies.

1. Assédio e ética no trabalho: o presente e os desafios do futuro na publicidade

Eu já conhecia essa pesquisa, já tinha visto os resultados dela há algum tempo. São dados que chocam, mas não surpreendem. E, antes que me julguem, deixa eu explicar.

Quem trabalha ou já trabalhou em agência de publicidade – grande ou pequena – facilmente se identifica com pelo menos um dos depoimentos dados, que são interpretados com maestria pela atriz Clarisse Abujamra. O assédio está presente no nosso Mercado, está enraizado, e é praticado, muitas vezes, sem que o assediador sequer se dê conta de que o está praticando.

Quando falamos a palavra “assédio” a primeira coisa que nos vem à mente é o assédio sexual. Mas o assédio moral também é grave e causa danos que, muitas vezes, são lentos e silenciosos, mas não menos preocupantes. É um tipo de assédio que se manifesta em falas corriqueiras, piadinhas “comuns”, exigências de dedicação exagerada e cumprimento de prazos absurdos. Tudo isso configura assédio moral e tudo isso acontece, não é mesmo?
*Entre as mulheres entrevistadas, 90% declarou já ter sofrido alguma situação de assédio (seja moral ou sexual). Entre os homens, o índice é de 76%.

E o assédio sexual? Esse não se resume ao contato físico forçado. Comentários maliciosos sobre atributos físicos, convites inapropriados, insinuações sexistas, tudo isso pode configurar assédio sexual. Essas histórias acabam abafadas pois a vítima, na maioria das vezes, se sente constrangida, envergonhada, intimidada e acaba não denunciando e nem comentando sobre o assunto.
*Quando se trata desse tema, as mulheres continuam sendo maioria, com 78% das entrevistadas afirmando já ter sofrido com isso, sendo 39% delas envolvendo contato físico.

Essa foi a primeira vez que a pesquisa foi apresentada em uma entidade do mercado e contou com a participação de representantes de anunciantes. Participaram desse painel a Chief Creative & Content Officer da Avon, Danielle Bibas, e a Gerente de Compliance da Ambev, Taissa Licatti, que falaram sobre a importância desta pesquisa, da sua divulgação, do debate sobre o tema e das providências tomadas em cada uma das empresas para combater a cultura do assédio.

Um dos pontos levantados por Danielle, e reforçado por Taissa, foi a força que o cliente tem ao exigir de seus fornecedores a implementação de códigos de conduta e compliance, ampliando dessa forma a rede de combate ao assédio.

A pesquisa encerra com a sugestão de ações de curto prazo e custo zero para serem implementadas em todas as agências, e porque não empresas, para combater o assédio. Talvez assim consigamos, ainda que aos poucos, transformar esse cenário e trazer, cada vez mais, respeito e igualdade nas relações profissionais.

Para conhecer a pesquisa completa, acesse:
https://grupodeplanejamento.com/2017/11/30/pesquisa-sobre-assedio-report/

2. O impacto das megatrends no mundo corporativo – O futuro e como se preparar para ele

O que você esperaria de um painel com esse tema?
Respostas? Previsões certeiras? Garantias do que está por vir?
Nada disso!

“O futuro não existe. O que existe são possíveis cenários que podem acontecer.”

Com essa declaração Peter Kronstrom, Head do Copenhagen Institute for Futures Studies, abre sua palestra, que nem deveria ser chamada de palestra. É quase um bate papo dinâmico e informal com um dinamarquês muito simpático, que fala um português excelente (apesar do sotaque e da habitual falha na concordância de artigos e gêneros), e que iria quebrar vários dos nossos paradigmas e “pré” conceitos.

Num universo de 14 megatrends apresentadas (Desenvolvimento demográfico, Crescimento econômico, Sustentabilidade, Desenvolvimento tecnológico, Foco na saúde, Comercialização, Globalização, Individualização, Sociedade em rede, Democratização, Polarização, Imaterialização, Sociedade do conhecimento e Aceleração), algumas tiveram destaque especial:

  • Sociedade do Conhecimento – estamos vivendo um momento onde tudo é muito dinâmico, onde a taxa de duplicação do conhecimento é muito mais rápida do que a pouco tempo atrás. Estamos vendo uma quebra de paradigmas na educação onde deixaremos de ser especialistas em determinado assunto para nos transformarmos em generalistas em diversos assuntos. Precisamos reaprender a aprender, constante e ininterruptamente;
  • Individualização – atualmente temos muita liberdade de escolha e vivemos numa cultura de “expectativas líquidas”, onde cada nova experiência boa que vivemos, vira um padrão de comparação para todas as outras. Formamos nossas opiniões e conceitos individualmente. Por isso, as marcas precisam entregar sempre mais e melhor;
  • Foco na Saúde – a geração que está chegando viverá em média 30 anos a mais do que a geração anterior e a geração atual já está chegando aos 90/100 anos. O que significa isso? Para Peter, significa que o mundo é dos mais velhos. “Velhos” estes que estão se aposentando e cada vez mais ativos, mais presentes, mais conectados. Os 60 são os novos 40;
  • Democratização – a democratização do acesso. Acesso à informação, ao consumo, às experiências. E essa democratização pode ser vista claramente com o surgimento dos crowdfundings, coworkings, crowdsourcing, etc, que permitem com que as pessoas ampliem o acesso a um maior leque de opções. Além disso, vivemos em um momento de aumento da transparência nas relações e isso inclui a relação marca x consumidor. As marcas não conseguem mais se esconder atrás de um discurso bonito, de uma propaganda. Temos acesso às marcas, à informação e cobramos verdade;
  • Comercialização – ao invés de produtos, vamos comercializar cada vez mais serviços. Com tecnologia e acesso aos dados, as empresas poderão entender o consumidor, seus hábitos, frequência de consumo e entregar a ele serviços totalmente customizados, facilitando sua vida;

Tá bom… mas e a tecnologia? Afinal, estamos falando de futuro, de tendências não é?
Segundo Peter, a tecnologia é apenas um produto criado pelo ser humano e, se daqui a 50 anos você perguntar para alguém qual foi a grande mudança, o grande impacto da época atual, ninguém vai falar sobre smartphones e sim, sobre a igualdade de gêneros na sociedade.

Por isso, iniciativas como esta do Grupo de Planejamento, que trazem luz a um assunto tão presente no dia a dia e, ao mesmo tempo, tão absurdo como o assédio, mostram que, sim, esse movimento está acontecendo. A luta pela igualdade de gêneros está cada vez mais presente e ganhando mais força. E estes são os reais fatores de transformação. E quem não se transforma junto com o mundo, se torna irrelevante.

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Cacá RabelloCacá Rabello é líder de Atendimento e Negócios na Quintal e como hobby faz doutorado em Stellantologia.